S@pphire

Tirei meus sapatos para sentir a vida. Foi ruim andar por estradas cobertas de pedras e pular todas aquelas cercas farpadas. Ah, pisaram em mim, por puro capricho. Fui trocada por amores e amigos, por pura conveniência. Eu perdi pessoas que amava e algumas foram embora porque quiseram, outras não. Senti o chão desabar muitas vezes, pedaços de mim caíram e se perderam. Mas, não mentiram sobre o céu azul e o cheiro das flores, ainda bem que existe a parte boa da vida. Dizem que as decepções nos transformam em uma versão ruim, mas eu detestaria ser um pouco de cada pessoa ruim que encontrei na vida. A minha essência nunca modificou, sinto meus pés calejados e uma certa maturidade que antes não existia. Mas, o meu coração ainda é bom.

Foi depois de muito tempo que descobri que esquecer alguém é muito mais que não procurar. É mais que ignorar uma mensagem, colocar o celular no mudo para não ouvir as trinta chamadas perdidas.
Foi depois de muitas cambaleadas e recaídas infernais, chorando até o dia raiar que me dei conta que esquecer alguém acontece sem que precisemos entrar numa guerra com nosso próprio peito.
Você não vai precisar se armar até os dentes, nem ter que fingir que não sente, porque enganar a si mesmo é uma grande furada. Vai acontecer naturalmente, numa sexta à noite, olhando sozinho pra lua você percebe que a única companhia indispensável é a tua, já não tem vontade de saber, de procurar ou fingir que não se importa, porque, de repente, o coração já não fica aos pulos, a voz não falha e as pernas, antes trêmulas, ficam mais firmes que uma rocha. E numa linda manhã de segunda, você descobre que está indiferente ao que antes te tornava vulnerável. É quando a ficha cai e com ela todas as suas dúvidas. Você vai ter certeza que a indiferença é o único remédio quando o amor vira dor.